MUCB

Aquilo que realmente importa

Texto de: Liliane Alcântara de Abreu com colaboração de Letícia Monteiro Nunes e Pamela Cristina Soares.

Como base de um trabalho com a finalidade de exercício de observação, um grupo de estudantes de Psicologia acompanhou, no primeiro semestre de 2020, vários fenômenos sociais ligados ao cotidiano, tais como: o uso da tecnologia; a liberdade das crianças e adolescentes; os trabalhos de vendedores ambulantes; o recente medo do COVID-19; pessoas em situação de rua e a constante expressão de cansaço e desânimo observados nas pessoas no dia-a-dia.

Assim, a equipe identificou o que mais “gritava” na semiótica das palavras de seus muitos relatórios, e entenderam que tinham um único ponto que ampliava-se para muitos outros, mas convertendo-se novamente em si: o estado de ânimo das pessoas e aquilo que realmente importa.

Nos anos de 1980, a banda musical Queen e o cantor David Bowie escreveram uma canção que explanava o estado de ânimo das sociedades modernas diante de tanta pressão, informação e falta de tempo, e do que se esperava surgir dali depois (ou durante) de um enorme ápice de estresse.

Under Pressure” (MERCURY; TAYLOR; MAY; DEACON; BOWIE, 1981) significa na tradução literal “sob pressão”, e fala da dor e da insanidade que estariam lado a lado, mas igualmente da esperança de uma grande ressignificação nascer dali. O amor ao próximo e a si mesmo se fazer ser visto e ouvido.

“(…) É o terror de saber o que realmente é esse mundo / observando alguns bons amigos gritando: Deixe-me sair! / Rezo para que o amanhã me deixe mais animado / Animado / Animado / Pressão sobre as pessoas, pessoas nas ruas / Afastei-me disto tudo como um homem cego sentado em uma cerca, mas não funciona / Continuo fornecendo amor, mas ele está tão rasgado e despedaçado / Por que, por que, por que? / Amor, amor, amor, amor, amor / A insanidade ri, sob pressão estamos cedendo / Não podemos dar a nós mesmos mais uma chance. Por que não podemos dar ao amor mais uma chance? Por que não podemos dar amor? / Dar amor, dar amor, dar amor, dar amor, dar amor, dar amor, dar amor, dar amor / Porque o amor é uma palavra tão fora de moda / E o amor te desafia a se importar com as pessoas na beira da noite, e o amor desafia você a mudar nosso modo de nos preocupar com nós mesmos / Esta é nossa última dança / Esta é nossa última dança / Isto somos nós mesmos / Sob pressão / Sob pressão / Pressão.” (MERCURY; TAYLOR; MAY; DEACON; BOWIE, 1981)

Durante a jornada de elaboração para esse relatório, o grupo de trabalho se deparou com muitos contextos que permeiam o dia-a-dia das sociedades contemporâneas e que eram um espelho dessa música. Ademais, durante esse processo de observação e reflexão, toda a sociedade mundial foi surpreendida por um vírus mutante e mortal, o COVID-19, que impulsionou todos ao isolamento social e à uma série de cuidados para diminuir o impacto de muitos serem contaminados simultaneamente. Isso faria com que os centros de saúde não conseguissem suportar tanta gente doente junto, colapsando o sistema e precipitando milhares de óbitos.

Portanto, não só nossa forma de trabalhar as observações mudou, mas o comportamento das pessoas que já observávamos sofreu uma radical modificação, e claro, possibilitou demarcações drásticas anteriores e posteriores a todo esse advento.

Os membros do grupo de estudo observaram com mais intensidade indivíduos em pontos mais específicos como rua e meios de transporte. De sujeitos em situação de rua, passando por profissionais do sexo, à trabalhadores ou passantes nas ruas ou transportes, e até indivíduos da vizinhança. O fato é que aspectos positivos e negativos foram observados com frequência, assim como as atitudes emocionais humanas (como impaciência e paciência, raiva e alegria, solidariedade e indiferença, atenção e desatenção, preservação e descaso, entre outros) se cruzavam com o constante uso da tecnologia dos celulares, e até da arte como ferramenta de resgate da sensibilidade e atenção. A instantaneidade da vida estava se chocando com aquelas pequenas coisas que de fato deveriam ser importantes, mas que se tornaram tão invisíveis quanto os indivíduos em situação de rua que alguns dos membros da equipe observaram. E o tempo tem papel nisso.

A Revolução Industrial transformou o homem numa espécie de máquina – inclusive muito bem retratado por Charles Chaplin (1936) há quase 100 anos no filme “Tempos modernos” –, que precisou a cada década realizar mais atividades simultâneas, produzir mais e ser obrigatoriamente produtivo. Chaplin previu que as sociedades no futuro tornar-se-iam automatizadas e até desumanas, tendendo ainda ao comportamento compulsivo àquilo que fossem muito expostas.

Vemos hoje, que os sujeitos sociais percebem-se precisando absorver tudo ao máximo, sem tempo e até com a percepção temporal sendo algo extremamente rápida. Em outras palavras, a medida de tempo nos parece menor do que há 30, 60, 100 anos. A produção estaria ligada ao sucesso, o sucesso seria sinônimo de felicidade, e assim, ter ganharia mais importância do que ser.

O estresse como carro chefe de resposta pela alta expectativa social, gera constante tensão nos indivíduos. As atividades são pressionadas a serem finalizadas cada vez num tempo menor, indivíduos devem ser cada vez mais capacitados e competitivos, a materialidade das coisas é conduzida ao processo de desapego e trocadas por outras (mesmo sendo novas), e tudo é substituível.

“A pressa do mundo moderno não permite que o ser humano se detenha nas interações que não sejam diretamente necessárias para o trabalho. O homem atual raramente se conecta de verdade com o outro, ele simplesmente é colega, é conhecido, porém não partilha das raízes das amizades profundas. Isto até é desejado, mas sua agenda não o permite. O resultado é a sensação de solidão, de desapego, de menos valia dos outros e, consequentemente, de si mesmo.” (LIPP, 2008)

O cotidiano contemporâneo engloba, sobretudo nas grandes cidades, indivíduos que passam horas no translado casa/trabalho em transportes lotados, acesso incessante à smartphones, pressa constante, ruas cheias de passantes e consumidores, e até de indivíduos em situação de invisibilidade nas ruas. Dessa forma, vivemos uma dicotomia de que se uns tem acesso a tudo, outros não acessam nada. Se o tempo é escasso para uns, para outros ele é interminável.

Essa forma de viver aceleradamente traz consequências sérias à saúde mental e física (como estado de alerta sucessivo, problemas no sono, cansaço constante, estresse, ansiedade e outros) e até interferindo nas formas das pessoas se relacionarem umas com as outras.

Os transtornos de humor, os vícios generalizados e até os comportamentos suicidas (mesmo velados) tornam-se cada vez mais intensos e alcançando um número maior de pessoas, e estudos mostram que eles são inegavelmente maiores em grandes centros urbanos. Isso foi descrito em reportagem para a página do VivaBem, UOL (BRUNELLI, 2020), sobre pesquisas com relação à saúde mental nas grandes cidades:

“Embora muitos desses transtornos tenham base genética, já foi reconhecido que a segurança emocional, especialmente na primeira infância, reduz o risco de transtornos mentais nas fases seguintes da vida. Isso significa dizer que uma criança que tem contato prolongado com os pais e ambiente familiar harmonioso, tem menos risco de desenvolver doenças mentais na fase adulta do que uma criança que experimenta violência familiar, se encontra em lugares inseguros ou tem pouco tempo de convívio com os pais —o que é comum nos dias de hoje, devido ao intenso ritmo de trabalho na cidade. Os aspectos sociais também influenciam de maneira importante. Ainda há regiões urbanas em que é possível formar redes de afeto e de apoio que atuam como protetoras de nossa saúde psíquica. Por outro lado, o desamparo e a solidão são sentimentos frequentes entre os moradores das grandes metrópoles. Na falta de alguém com quem dividir os medos e as dúvidas e em sofrimento mental, nos tornamos predispostos ao consumo de álcool e drogas.” (BRUNELLI, 2020)

Tudo está interligado, criando uma constante dinâmica entre ambiente, corpo e psiquismo. 

A secreção da melatonina, que induz o sono e protege a nossa saúde mental, começa depois de duas horas do escurecimento — só que os ambientes urbanos estão cada vez mais claros, seja pelas luzes externas ou pelas telas dos computadores e dos celulares. Jovens passam horas e horas em redes sociais que expõem alegria de outras pessoas e se sentem menos felizes do que as pessoas que veem na tela. Os finais de semana depois de uma semana exaustiva são tradicionalmente os dias de curtição e consumo de álcool e drogas recreativas, que também colaboram para um estado depressivo quando o efeito passa. Essa mudança neuroquímica cerebral causada pelo estresse contínuo da vida urbana também é fator de risco para o desenvolvimento de doenças mentais.” (BRUNELLI, 2020)

Um grupo enorme da população gasta às vezes de 30 minutos à 1 hora andando só para chegar ao ponto de ônibus, trem ou metrô. Depois disso, pode encarar outras duas ou três conduções ou conexões para chegar ao trabalho, totalizando assim em média 3 horas, sem contar a volta. Sair muito cedo (de madrugada) e chegar em casa depois da meia noite, ainda mais se trabalhar e estudar paralelamente, faz parte dessa rotina estafante e estressante que muitas vezes não é compensatória (mas, paga minimamente o aluguel e a comida), e são acompanhadas pelo medo de assaltos e estupros. Nesse contexto, ainda existe o sentimento de culpa por parte de muitas mães (sobretudo), pois o contato com seus filhos fica drasticamente reduzido, impactando fortemente nas relações familiares, e que vamos retomar mais adiante esse ponto específico.

Efetivamente as sociedade contemporâneas produzem um ciclo contínuo de indivíduos com sonhos, lutas e pobreza, e que vai passando de geração à geração, mas sendo ignorados por uma outra infinidade de pessoas (alienadas) em algum nível de patamar social acima, que não se esforçam para alcançar o entendimento de como ocorrem as diferenças estruturais da sociedade, muito menos desenvolverem a empatia pelo próximo.

O professor de economia da Fundação Getúlio Vargas e do Mackenzie Raphael Bicudo diz que essa perda de tempo no transporte público causa um fenômeno chamado de ciclo intergeracional de pobreza. / “Os pais dessas pessoas viveram em situação pior ou semelhante a elas e, salvo raras exceções, seus filhos não conseguirão romper esse ciclo e também viverão assim. Isso ocorre porque as dificuldades fazem essas pessoas terem uma perda de oportunidade e ascensão social. Elas não conseguem se dedicar a cursos, faculdades e têm dificuldades para chegar pontualmente em entrevistas e no trabalho porque dependem de ônibus e trens e algumas ainda enfrentam enchentes”, afirmou. / Ele explica que isso dificulta, e muito, principalmente a vida dos trabalhadores mais pobres. Em seu ponto de vista, isso torna desigual a competição por uma vaga no mercado de trabalho. / “A longo prazo, isso causa um desgaste físico e emocional, que resulta numa perda de produtividade. Isso faz com que essas pessoas sejam inseridas em empregos com salários menores e precários. Eu tenho alunos que saem 23h da faculdade, chegam 1h em casa e acordam às 4h para o trabalho. Como essa pessoa pode concorrer a uma vaga com outra que vai à faculdade de carro com ar condicionado e não precisa trabalhar?”. (…) / (…) Com tanto tempo gasto apenas com deslocamentos entre o trabalho e a casa, os trabalhadores entrevistados quase não conseguem ter um momento de lazer e cultura. Mas têm muitos sonhos e a esperança de ter uma vida menos corrida no futuro. / (…) O sonho de Ludovico, que também nunca saiu do Estado de São Paulo, é conhecer o Nordeste e o Norte. / (…) Hoje, ele conta que já se sente realizado quando consegue chegar em casa antes dos filhos irem para a cama ou dormir mais de seis horas numa noite.” (SOUZA, 2019)

A rotina traçada diariamente e sob à luz das tecnologias modernas – sobretudo os aparelhos celulares que acompanham cada indivíduo do banheiro ao trabalho e à cama como se fosse parte de seu próprio corpo –, edifica sujeitos que fixam seus olhos nas telas de pequenos dispositivos telefônicos para conectar-se com um todo, mas na verdade tentando abrandar uma imensa solidão (e frustração) ao qual foi imerso. Daí, vemos multidões de pessoas em transportes públicos ou nas ruas passando seus dedos em telas sem fim para acompanhar as redes sociais.

Deve-se abrir um parêntese aqui. Tecnologias de comunicação como jornais, rádio e televisão foram muito impactantes socialmente quando surgiram. É fato que antes do advento dos aparelhos celulares smartphones ou tablets, as pessoas liam revistas e jornais dentro dos transportes públicos (ou outros locais públicos que exigiam espera), mantendo-se fechadas em seus universos pessoais e sem darem muita atenção ao que ocorria adiante. Contudo, num determinado momento elas se permitiam ainda observar o caminho das ruas que passavam, e eventualmente interagiam umas com as outras. Não era incomum, por exemplo, paqueras ocorrerem dentro de ônibus, trens e metrô e anteriores à virada do século XXI. Portanto, a verdade é que mesmo ainda havendo uma brecha de interação com outras pessoas ou ambiente, antes do advento dos celulares as pessoas não queriam interação ampla com outros sujeitos. Agora, só piorou.

Mas, não somente isso. As atividades foram se tornando tão intensas que as pessoas foram criando ilhas pessoais para relaxar em pequenos momentos, mesmo comendo, na espera do transporte para chegar em algum outro lugar, ou apenas caminhando na rua. Todo e qualquer lugar que se abra um espaço só dela.

Isso ficou muito evidente com a virada do século XXI e gradual evolução tecnológica, pois as pessoas foram ficando mais dependentes dos aparelhos de comunicação pela facilidade de receber notícias e de falar com outros indivíduos. Certamente ficou mais intenso, inclusive com a possibilidade de reencontrar antigos colegas, amigos, parentes e até ex-namorados que passaram por suas vidas e que por algum motivo perderam o contato, mesmo estando em outro país. As redes sociais ampliaram essa possibilidade, tornando a distância perceptivamente inexistente, e a encantadora facilidade de ter tudo à disposição num simples toque de tela foi realmente mágica. Entre fazer fogo friccionando duas varetas ou acendendo um isqueiro, o segundo é escolhido sem discussão.

Isso traz uma possibilidade positiva sobre o uso da tecnologia nesse momento. Justamente pelo isolamento social físico precipitado pelo COVID-19, é pelo contado das redes sociais que as pessoas estão conseguindo se comunicar com outros, distraindo-se, estudando, e até protestando com grande empenho contra todas as ações barbáries dos governantes. Mais do que nunca, a internet tornou-se uma ferramenta de ativismo político e social. (ESTADÃO, 2020; BLOG DO ESMAEL, 2020)

Apesar dessa feliz proximidade com outras pessoas por meio virtual ou acesso rápido à comunicação e informação sobre tudo, a distração tecnológica unida à rotina com tarefas excessivas criou outro problema: as famílias perderam o dom do diálogo entre si em detrimento de seus isolamentos dentro do próprio grupo e ambiente. E não só elas: hoje não é incomum vermos amigos em encontros para se confraternizarem, mas estarem dando atenção aos smartphones, e não às pessoas reunidas. Pessoas estão perto umas das outras, mas não estão juntas.

Saleh (2014) trouxe uma reflexão em reportagem para a Revista Crescer, exatamente sobre como a tecnologia acaba afetando as famílias também dentro de casa. Ela conta que a rotina dos pais com o smartphone na rua é levada para a casa, e assim, esses pais não soltariam seus aparelhos, ignorariam na maioria das vezes seus filhos sem lhes dar atenção, e nos poucos momentos que estivessem com as crianças (independentemente da idade), tenderiam a entregar seus aparelhos para que os filhos se distraíssem, ao invés de interagir, conversar e/ou brincar com os pequenos. Esse contato exagerado com celulares e sem a devida interação entre pais e filhos, geraria sérios problemas na ordem de problemas de atenção, audição e visão, postura, rendimento escolar, sono e até déficit de vitamina D. Ademais, todo esse comportamento de afastamento dentro das residências criaria a edificação de completos estranhos que efetivamente não se conheceriam, ligados apenas pela consanguinidade.

Barbosa (2017) e Guedes (2015) reforçam com o entendimento sobre o excesso de uso do celular e redes sociais, e que ultrapassa a mera distração, comunicação e interação, ou captação de informações rápidas e atualizadas. Eles trazem em suas reportagens os efeitos danosos à saúde e às relações mediante a compulsão pelo uso do celular por adultos e crianças. A expressão inventada na Austrália e conhecida como phubbing, demarca a compulsão pelo uso do celular, e isto é visto nos indivíduos que não conseguem se desvencilhar do aparelho, e esse uso impacta nas relações com terceiros. Além de checar a todo momento, a cada minuto as redes sociais ou mensagens de plataformas como WhatsApp ou e-mails nas ruas, trabalho, escola ou transportes públicos, a pessoa fará essas ações até durante o banho, como no intervalo entre a lavagem do cabelo com shampoo e a aplicação do condicionador, por exemplo.

O uso compulsivo é sem consciência, traz problemas de vício em tecnologia tais quais o jogo, a bebida ou o sexo. Isso ocorre por causa dos poderosos estímulos cerebrais que ativam os circuitos neuronais do sistema de recompensa no sistema nervoso central. Barbosa (2017) explica que em experimentos realizados nos Estados Unidos, os indivíduos compulsivos submetidos a abstinência declararam que preferiam ficar sem sexo do que distantes de seus celulares. De fato, as redes sociais por elas mesmas já são um constante sistema compensatório com as “curtidas”. Não é por menos que podemos verificar facilmente até através de conhecidos, pessoas que adicionam completos estranhos e sem nenhuma relação em seus perfis pessoais para criar números, acumulando duas, três mil ou mais em sua página para obter a satisfação nessas muitas “curtidas” geradas por tantos indivíduos. Assim, as relações reais se desmantelam, já que a realidade é dura e sem atrativos, e o virtual transporta o usuário à um mundo utópico onde ele pode apresentar-se, por exemplo, como uma pessoa alegre e popular (sendo que é triste e solitária). Isso pode ser bem visto e entendido no filme “Jogador nº 1” (SPIELBERG, 2018), que se passa em 2045. Como no filme, muitas pessoas hoje refugiam-se da realidade, no virtual. Assim, a prevenção e o tratamento seriam mais do que necessários e que devem ser conduzidos pela “família e educadores no nível do indivíduo; governo e instituições privadas no nível da sociedade através de campanhas de responsabilidade social” (GUEDES, 2015).

É preciso trabalhar em dois eixos: no tratamento e na prevenção. O primeiro eixo (tratamento) envolve capacitação de médicos e psicólogos por todo o Brasil (já que se trata de um tema novo e pouco divulgado), divulgação de transtornos relacionados ao uso abusivo das tecnologias (já que muitas pessoas não procuram ajuda pois desconhecem o problema) e por m, a ampliação de programas e centros de tratamento pelo Brasil. O segundo eixo (prevenção) é mais lento, porém mais eficiente a longo prazo. O conhecimento e educação são as ferramentas mais importantes neste processo.” (GUEDES, 2015)

E nessa conturbada vida de novas relações que não conseguem e nem sabem dialogar, ou prestar atenção a algo fora dos aparelhos tecnológicos, pode-se encontrar sujeitos que tentam mostrar outras realidades tão simples que fazem parte da História da Humanidade. Músicos e artistas diferenciados surgem cada vez mais nos últimos anos nas ruas e nos transportes públicos, não só como possibilidade de algum ganho para seus sustentos, mas para trazer um pouco de alegria aos passantes. Suas percepções sobre nossas sociedades cada vez mais apressadas e claustrofóbicas, transforma o trabalho desses artistas em pequenos e talvez únicos possíveis acalentos de interação humana com indivíduos que até porventura não tenham acesso a nada. As esperas em transportes públicos e até em filas enormes numa rua tornam-se menos enfadonhas e/ou estressantes, e não é incomum as pessoas próximas rirem ou cantarem juntas. A vida parece ficar por alguns minutos mais leve.

No filme “Sociedade dos poetas mortos” o professor protagonista da história dizia que “Medicina, direito, administração, engenharia são atividades nobres, necessárias à vida. Mas a poesia, a beleza, o romance, o amor, são as coisas pelas quais vale a pena viver” (WEIR, 1989). Ele tentava ensinar o que realmente importa na vida. Que as pequenas coisas que nos conectam diretamente ao outro, sobretudo pela arte, são aquelas que nos fariam mais feliz.

“Arte é uma corda bem comprida trançada para resgatar pessoas afundadas em abismos”, disse Alexandre Reis citado em um pequeno blog de Costa (2019). Esse blogueiro faz uma analogia muito interessante sobre como a arte funcionaria positivamente em sujeitos e sociedades:

“De vez em quando eu gosto de fazer trocadilhos com as palavras, o que também considero uma bela arte! Se você mudar a ordem das sílabas o que aparece? TEAR. Sabe o que é um tear? Não é um verbo como aparenta ser. Na realidade é um aparelho mecânico utilizado em tecelagem. (…). Muita gente não conhece esse instrumento, que para manusear, é preciso ser um verdadeiro artista. (…) o que quero dizer que é existem diversos tipos de arte, e elas são exuberantes. Elas têm esse poder de nos retirar dos abismos da vida. Artes manuais, pintura, escultura, música, teatro, cinema, dança, poesia, literatura etc. estão todas dentro desse mesmo universo…” (COSTA, 2019)

A Arte traria aquele tempo perdido para o indivíduo olhar para si, e, também, para o outro, pois funcionaria como um grande pulmão pulsante e reflexivo. As pessoas se acalmam, filosofam, param, refletem, criticam, indignam-se, amam, riem, choram, pensam, desaceleram…vivem.

Talvez por causa disso tudo tenhamos nesse momento um Governo tão empenhado em rebaixar e eliminar a arte e cultura. O mais irônico é que justamente na atual conjuntura que todo o planeta se encontra em isolamento social, é a Arte, em todas as possibilidades, que está ainda resgatando e mantendo a sanidade mental dos indivíduos diante não só da clausura, mas da perda traumática global de tantas pessoas simultaneamente, sobretudo porque elas simplesmente estão literalmente desaparecendo sem efetivamente ver-se sangue ou destruição, como ocorreu nos últimos 10 mil anos de História da Humanidade criadora e criativa. Pessoas amadas simplesmente estão indo como uma semente de dente-de-leão ao vento.

Nesse lapso é que pode-se resgatar a questão do tempo. Tempo para si, tempo para o outro, tempo para pensar. 

Durante os momentos de observação da equipe desse trabalho, víamos muitas pessoas em circulação nas ruas e transportes, mesmo com o decreto do isolamento social diante do COVID-19, o que efetivamente causou um grande desconforto, frustração e ansiedade em algumas das integrantes do grupo, e não obstante até tudo isso representado inicialmente em raiva e choro pela impotência de não poder fazer algo. É fato que muita gente ainda era obrigada a trabalhar, mas outras não (e essas é que causavam desconforto na equipe) e ainda verbalizando abertamente a repetição do discurso genocida do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. Mesmo com mais de 6.329 óbitos confirmados (UOL, 2020) somente no dia 01 de maio de 2020 (isso sem contar com as subnotificações que são na verdade de sete à oito vezes maiores e que foram alertadas pelos técnicos especialistas em saúde), Bolsonaro afirmava (e continua afirmando), que as pessoas devem voltar às ruas, ao trabalho, às escolas, às grandes aglomerações, pois o vírus “não é nada” e que “é só uma gripezinha, um resfriadinho”.

No dia 01 de maio de 2020, a revista EXAME publicou em sua página virtual uma pesquisa muito interessante sobre a importância das palavras, sobretudo vindas de alguém com grande peso de influência. O estudo feito pela Faculdade Getúlio Vargas e a Universidade de Cambridge (do Reino Unido) mapearam por geolocalização 60 milhões de aparelhos celulares e cruzaram com dados das eleições de 2018 cedidos pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Os pesquisadores descobriram que, após cada discurso de Jair Bolsonaro, entre 15 e 24 de março, minimizando o COVID-19, os municípios que concentravam mais apoiadores desse presidente tinham uma quebra substancial do isolamento, amplificando a negação em manter-se em casa que também já era observada normalmente pelos estudiosos.

“Não é apenas uma relação entre votar em Bolsonaro e não respeitar isolamento. Essa correlação pode acontecer por vários motivos. Um ponto importante da pesquisa é o ‘timing’ dos eventos: ela mostra que queda do isolamento social acontece apenas depois ele falar. E a principal conclusão da pesquisa é: os líderes importam”, diz em e-mail à EXAME.” (CERIONE, 2020)

O estudo foi inovador, pois comprovou fatores de causa e efeito resultantes da fala direta do presidente Bolsonaro, e, portanto, sendo ele totalmente responsável pela atitude irresponsável da população que o segue em massa, e ainda colocando a vida de terceiros em perigo, inclusive dos profissionais de saúde que estão se contaminando e morrendo na tentativa de salvar tanta gente infectada.  

Então tem-se nisso uma série de coisas que abrange tudo aquilo que nossa equipe observou sobre as ruas, os transportes e toda a dimensão de relação comportamental e impacto no ânimo das pessoas e que agora se cruzam com a pandemia do COVID-19. Como as pessoas se comportam em comparação com o isolamento ao qual antes produziam para si mesmas, quando podiam ter acesso a tudo e a todos (e inclusive ignorando outros indivíduos e pequenas coisas da vida), e agora, que isto é algo compulsório. Portanto, comecemos com o que é invisível para a população que transita nas ruas: os sujeitos em situação de rua.

“Por que vocês estão de máscaras?”, perguntou um indivíduo em situação de rua à uma pessoa, como relata Amadeus (2020) em reportagem. A frase proferida quando o isolamento social já havia sido emitido nas grandes capitais, foi como “um tapa na cara”, como o próprio jornalista citou no início do seu texto. Outro perguntou, “O que vamos comer?” (GASPARELO, 2020).

Os indivíduos que viam o tempo quase parado em relação ao restante da multidão sempre muito apressada, foram esquecidos mais uma vez. E não só eles especificamente, mas o COVID-19 escancarou um problema social (e vamos falar pontualmente de Brasil), que vinha sendo ignorado e camuflado de todas as formas possíveis há décadas…há séculos. Amadeus (2020) escreveu indignado: “Quem trouxe o vírus está vivo. E quem estava cuidando de quem trouxe o vírus morreu. Ou seja: morreu a empregada doméstica, morreu o porteiro, enfim, morreu a classe trabalhadora que carrega este país nas costas, maioria negra e pobre”.

Pobres e negros são considerados como “ninguém” na sociedade brasileira, os “excluídos”. Contudo, abaixo deles haveria “os invisíveis”, os indivíduos em situação de rua, pois são julgados socialmente como o ponto mais baixo ao qual um sujeito pode chegar.

“Muitas destas pessoas, infelizmente, estão na posição de esquecidos que, segundo Luis Alberto Warat, estaria abaixo do excluído, porque o excluído, para ser excluído, pelo menos precisa ser lembrado. Já o esquecido estaria abaixo do excluído, porque ele nem é lembrado. É tratado como ninguém e ainda é esquecido”. (AMADEUS, 2020)

Existe uma condução de fazer com que a sociedade acredite que esses sujeitos, todos eles, fazem a opção de estarem na rua como morada, por isso seriam “moradores de rua”. E por ser uma “opção”, podem ser ignorados.

“Esse é o caso de Aparecida Dias Bazile, de 72 anos. A aposentada diz que recebe auxílio do governo, mas que não é o suficiente para comprar remédios e conseguir pagar aluguel. Ela conta que está na rua desde 1997, quando seu marido morreu. A idosa arma que não consegue abrigo nos serviços assistenciais e que não recebeu muita informação sobre o novo vírus.” (GASPARELO, 2020)

Uma pesquisa recente publicada pela revista Carta Capital mostra que muitos desses sujeitos possuem escolaridade, trabalham de alguma forma como coletores de material reciclável, mas que muitos não recebem nenhum tipo de ajuda social (OLIVEIRA, 2020), e mesmo aqueles que recebem algo, não conseguem pagar uma moradia (mesmo muito simples, como o caso da citação anterior).

É da rua que essas pessoas retiram seus alimentos. Das sobras e restos jogados nas lixeiras próximas às grandes lanchonetes e restaurantes, e produzidos em massa por todos aqueles passantes apressados e geralmente compenetrados em seus celulares. E sem compradores nas ruas, sem o consumo avassalador desses sujeitos (inclusive nesses centros de alimentação), como esses indivíduos em situação de rua e abandonados se alimentam? Ademais, eles estariam completamente expostos ao COVID-19, e a mortandade seria avassaladora.

É fato que muitas instituições e autoridades políticas se mobilizaram para atender e proteger essas pessoas em abrigos, mas isto é provisório. Tudo foi emergencial, mostrando mais uma vez que se as políticas públicas estivessem atualizadas e afinadas com as verdadeiras demandas sociais, toda essa situação não estaria se apresentando tão catastrófica, e muito menos as ações seriam apenas paliativas. E ainda existe um outro lado: todos aqueles que estão recebendo essa proteção momentânea, terão que sair de um abrigo com cama, alimento e banho (coisas que não recebem), e serão posteriormente obrigados a retornar às ruas e novamente à invisibilidade. Serão acolhidos e depois jogados novamente à própria sorte. Isto é de fato um baque no psicológico de qualquer ser humano.

Apesar disso tudo, nesse momento de pandemia pelo COVID-19, muitas pessoas estão desenvolvendo e/ou potencializando a generosidade e a empatia, e mostrando que as minorias não devem ser abandonadas ao destino. O impacto diante de tantos óbitos e da possibilidade de contaminação que conduz igualmente às mortes, trouxe para muitos a solidariedade humana à luz, e até retirando-a de indivíduos isentos e apáticos da existência do outro.

Temos presenciado de tudo um pouco nesse sentido de apoio logístico e emocional às pessoas completamente estranhas, de pobres à indivíduos bem estruturados financeiramente. Sacos com alimentos e água para sujeitos em situação de rua que não foram encaminhados à abrigos; pessoas cantando e tocando em janelas e levando Arte aos corações; apoio às pessoas nas redes sociais incentivando e orientando sobre o porquê elas fiquem em casa; palmas em janelas para levantar o moral abalado dos profissionais de Saúde que além de verem tanta gente morrendo simultaneamente, ainda precisam escolher que morre e quem vive; mutirão de voluntários para todos os fins, inclusive para fazer e doar máscaras para pessoas carentes; indivíduos fazendo compras para os vizinhos dentro dos grupos de risco; pessoas unindo-se para juntar dinheiro e/ou alimentos e ajudar pessoas estranhas que estão sem trabalho e dinheiro, e nada para comer ou pagar o aluguel, e muitas outras ações. São coisas assim que nos fazem ter esperança ainda na humanidade, e depois que toda essa dor passar, que talvez nossa consciência mude, pois, sim, vai precisar mudar.

“(…) as redes sociais e outras formas de comunicação digital exercem um papel importante em criar um “senso de solidariedade e apoio social”. “É uma maneira de ajudar as pessoas a se conectarem e se ajudarem enquanto mantêm a distância necessária para limitar a disseminação da infecção. É animador que tenha havido uma onda de solidariedade e apoio mútuo nos últimos tempos”, afirma.” (GRAGNANI, 2020)

O medo em tudo isso também foi implacável, e se um grupo enorme de pessoas mostrou-se negacionista e inconsequente, num outro extremo surgiram aquelas apresentadas em grandes grupos com um comportamento egoísta e compulsivo por compras. O escritor Steven Taylor (apud BBC NEWS BRASIL, 2020), autor do livro sobre a psicologia de pandemias, chama esse comportamento de “efeito manada” e refere-se às ações irracionais de um grupo a partir da atitude de um ou mais indivíduos.

A maciça compra por rolos de papel higiênico, fazendo pessoas acabarem com todos os estoques dos mercados, foi um desses demarcadores. Isto é medo, e elas acreditaram verdadeiramente que estariam protegidas do mal, da morte, possuindo uma quantidade de produtos que talvez levem cinco anos para ser consumido.

“Um dos aspectos mais importantes dessa pandemia e de pandemias anteriores, segundo Taylor, é que as pessoas se sentem ameaçadas e precisam encontrar maneiras de lidar com isso. ‘As pessoas sentem que precisam fazer algo para sentir que estão exercendo algum controle sobre suas vidas. As compras motivadas por pânico fazem parte disso. Ajudar as pessoas também’, diz.” (GRAGNANI, 2020)

Esse comportamento consumista ao extremo ocorreu também com itens de alimentos, mesmo com Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) (SUTTO, 2020) afirmando que não havia motivo para pânico, pois não haveria desabastecimento.

Em reportagem para o jornal El País Brasil, especialistas em Marketing explicaram um outro ponto de vista, mas que se encaixa com a Psicologia. De novo, a sensação de segurança, a noção de pertencimento (de que todos têm e o sujeito não), e a ansiedade causada pelo vazio nas prateleiras, impactam na lógica do indivíduo.

“Entre os motivos alegados por David Coral, presidente da agência BBDO, está o fator psicológico, pois ser um produto higiênico dá uma sensação de segurança. Mas ele também acrescenta que tudo tem a ver com um conceito que nasceu com os telefones celulares, o FOMO (acrônimo de fear of missing out), ou seja, o medo de perder alguma coisa, de ficar de fora, naquele caso, do mundo tecnológico. E, neste caso, ‘medo do que acontecerá se eu não tiver o que os outros têm. Neste caso, o papel higiênico, porque se você vê que as pessoas estão comprando, pensa que é por alguma razão e que é necessário, e nesse tipo de comportamento se demonstra que somos gregários’, explica Coral. / O professor de marketing da ESIC, Paco Lorente, também fala sobre comportamento, esclarecendo que todo esse fenômeno está relacionado à psicologia aplicada ao marketing. ‘Os momentos de estresse fazem que uma compra tenha um componente mais emocional do que racional, quando em uma situação normal existe um equilíbrio entre os dois elementos’, diz o professor, que relaciona a alta demanda por papel higiênico ao fato de que o consumidor, diante da possível escassez de um determinado produto, decide acumular a maior quantidade possível. ‘Em uma crise como a que estamos vivendo, os produtos que nos dão bem-estar e limpeza são os mais valorizados’, acrescenta o professor. / No entanto, existe outro fator que determina essa compra compulsiva: a prateleira vazia. ‘Os pacotes de papel higiênico, devido ao seu volume, ocupam um grande espaço dentro de um supermercado, portanto não há muitas unidades expostas, o que faz com que esgotem rapidamente. O lugar vazio que deixa leva as pessoas a pensar que vai escassear e isso provoca ansiedade, além do fato de que o que o consumidor mais quer é controlar a situação’, explica Lorente.” (ÁLVAREZ, 2020)

O medo é algo natural e até saudável em algum grau, pois serve instintivamente como autoproteção e ligado à sobrevivência. O problema é quando se torna extremado, pois conduz a pessoa às ações irracionais e desesperadas, prejudicando a si mesma e muito constantemente à terceiros.

“Um artigo publicado por pesquisadores brasileiros no Revista Brasileira de Psiquiatria — baseado em estudos feitos em tragédias, epidemias e pandemias, inclusive a do novo coronavírus — afirma que quando o medo é crônico ou faz o perigo parecer maior do que de fato é, torna-se nocivo e pode ser o gatilho para o desenvolvimento de problemas de saúde mental. Ele aumenta os níveis de ansiedade e estresse em pessoas saudáveis e intensifica os sintomas das que têm transtornos psiquiátricos pré-existentes. / Ainda segundo o documento, durante epidemias o número de pessoas que desenvolvem distúrbios psíquicos tende a ser maior do que as que são afetadas pelo processo infeccioso. ‘É possível que estas condições possam evoluir para transtornos psiquiátricos depressivos, ansiosos (incluindo crises de pânico e estresse pós-traumático), psicóticos e paranoides e até suicídio’. Se não bastasse, tragédias passadas demonstraram que os problemas de saúde mental podem ser mais duradouros do que a sua causa. / Ou seja, o evento trágico passa, mas os males emocionais não vão embora.” (OLIVEIRA, 2020)

O jornalista dessa citação ainda informa na reportagem que por causa do medo extremo, o corpo também “grita” através do desenvolvimento de taquicardia, dores de cabeça, problemas no sono, falta de libido, hipertensão arterial, erupções cutâneas sem explicação, úlceras estomacais e até câncer, entre outros males. Tudo provocado por alto estresse e ansiedade que afetam o sistema imunológico e transformam-se em variadas doenças com origem psicossomática.

“Estamos vivendo num cenário de guerra, com comércios fechados, ruas vazias e notícias tristes que chegam o tempo todo. Para completar, o convívio social, que é uma forma natural de extravasar e equilibrar as emoções, está desaconselhado. Num momento desses, nossas defesas psicológicas podem não dar conta de manter o nosso bem-estar. “É muito gasto energético para a parte racional da nossa mente lidar e quem paga é o andar inferior que tem estruturas cerebrais mais profundas que lidam com as nossas emoções: o sistema límbico”, afirma o neurocirurgião.” (OLIVEIRA, 2020)  

O negacionismo também é um outro tipo de apresentação de medo, e tão preocupante quanto aquele apresentado pelos excessivos radicais. São extremos comportamentais de uma mesma emoção. A pessoa prefere fingir que nada está ocorrendo do que encarar a realidade. Como resultado, essa pessoa entra em desespero total quando a motivação do medo verdadeiramente a alcança, ou seja, no caso do COVID-19, é quando o negacionista se infecta, ou de forma mais contundente perde efetivamente alguém que ama, sobretudo se for algum parente.

Então, aproveitando a brecha sobre os integrantes da casa, pode-se retomar a questão das relações familiares versus a aglomeração e quantidade de horas que indivíduos com famílias constituídas passam fora da residência (em deslocamento nos transportes públicos, fora a própria permanência no trabalho e outras atividades).

As grandes aglomerações em transportes que antes do vírus COVID-19 eram uma realidade rotineira, tornaram-se potencialmente uma arma contra as pessoas nesse momento. A concentração de indivíduos faz efetivamente a rápida propagação desse inimigo invisível para muitas pessoas, e consequentemente, levando-o para dentro do ambiente residencial. Isso precipitou ações de isolamento compulsório implantadas por alguns governantes (PORTAL DO GOVERNO, 2020) – e, diga-se de passagem, totalmente contrárias ao intuito de Bolsonaro – análogas as recomendações da OMS e às ações de outros países já anteriormente infectados e que apresentaram elevados óbitos.

Assim, como em outras partes do mundo, estamos em tentativa de isolamento social – citamos “tentativa”, justamente por causa dos indivíduos em grande escala em negação da existência de tal mortandade e que ignoram a necessidade da reclusão domiciliar. Então ocorre que as pessoas estão sendo obrigadas a permanecer em casa por muitas semanas consecutivas (tornando-se meses) sem sair, sem fazer as coisas habituais que as distraiam fora de suas realidades domésticas, e o mais importante: estão tendo que conviver 24 horas por dia com as pessoas de sua família.

Pais e mães estão sendo obrigados a estar continuamente com seus filhos – e que como crianças, estão cheios de energia e necessidade de atenção.

Alguns integrantes da equipe desse trabalho acompanharam o relato de poucas professoras primárias conhecidas e o discurso de pais, ambos por escrito nas redes sociais, de pais que não estavam conseguindo lidar com as crianças. Reclamavam que os filhos só queriam comer todo o tempo e pular, e que eles não sabiam o que fazer, indagando também aos professores se os pequenos faziam isso no ambiente escolar.  Se antes, esses progenitores acabavam afastados dos rebentos por seus trabalhos todo o tempo, e mesmo no fim de semana havia uma determinada tolerância (até porque alguns podiam sair), agora a convivência provocava outra realidade. Assim, pais e filhos estão tendo que reaprender a conversar, a interagir, a brincar, a relacionar-se.

De outro lado, tem-se efetivamente os casais (com ou sem filhos). Pessoas que se conheceram, casaram-se, mas justamente por permanecerem muitas horas fora de casa no trabalho e/ou instituições de ensino para aperfeiçoamento acadêmico, compartilhavam apenas algumas poucas horas de convívio. Não é incomum ouvir de pessoas, que elas passavam mais tempo fora de casa com colegas de trabalho e/ou estudo, do que com o(a) próprio(a) parceiro(a) e até filhos.

Essa nova realidade de convívio trouxe um impacto no sentido de que muitas pessoas efetivamente não conheciam o outro escolhido como companheiro, e as relações se tornaram insustentáveis, já que não havia mais nenhuma espécie de máscara. Um exemplo disso é a China, o primeiro país no circuito do COVID-19 e que agora saiu do isolamento social. Lá, o índice de divórcios pós-pandemia foi altíssimo e nunca registrado antes (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2020).

Por outro lado, relatos em jornais televisivos como o Jornal Nacional (G1.GLOBO, 2020) ou plataformas virtuais de jornais como a Folha/UOL (FRAGA, 2020) mostram que muitos casais, e pais e filhos, tiveram a relação estreitada nesse período, e apesar de tudo, veem positivamente esse tempo dentro de casa.

Contudo, outras tenebrosas e preocupantes realidades surgem dessa permanência compulsória em casa: o aumento da violência doméstica e das atividades de abusadores (virtuais ou presenciais), e que alavancam seríssimos problemas físicos, psicológicos e sociais.

Em reportagem para o Governo do Acre, Gondim (2020) aponta para o aumento de casos de feminicídio e violência contra mulheres (e crianças) durante o isolamento. Já Attanasio (2020) relata para a BBC, o aumento da atividade virtual na Espanha – contudo esse problema é global e com uma grande célula no Brasil – em busca de pornografia infantil por pedófilos, ou até mesmo fóruns abertos por esses indivíduos na qual discutem abertamente sobre suas preferências e fantasias.

Segundo dados aos quais a BBC News Mundo teve acesso, na semana de 17 de março (três dias após o governo espanhol declarar estado de emergência) ao dia 24, foram registrados cerca de 17 mil downloads de material com pornografia infantil. / Na semana seguinte, de 24 a 31 de março, os downloads subiram para mais de 21 mil, ou seja, aumentaram quase 25%. / ‘Agora diminuiu um pouco e se estabilizou, mas ainda há mais downloads do que o normal’, acrescenta Carrión. / Mas não é um problema que diz respeito apenas à Espanha. / De fato, em um relatório do Serviço Europeu de Polícia (Europol) publicado no início de abril, sua diretora executiva, Catherine de Bolle, disse estar ‘preocupada com o aumento do abuso sexual infantil online’ nos países mais afetados pelo pandemia. / ‘Estamos todos em casa e constantemente conectados. Todos tentamos fazer online o que não podemos fazer pessoalmente’, diz Nunzia Ciardi, chefe da polícia italiana de Correios e Telecomunicações. ‘E claramente todos os crimes cibernéticos estão crescendo.'” (ATTANASIO, 2020)

Essa temática sobre os pedófilos virtuais (e veja, eles estão em reclusão e possivelmente sozinhos sem acesso físico à jovens e crianças, mas alguns estão transmitindo isso online com vítimas em suas residências), traz um outro problema: os abusadores intrafamiliares. Esses estão efetivamente trancados com suas vítimas, e elas não podem mais contar com algumas horas distantes em uma escola, ou com o abusador no trabalho. Uma das integrantes dessa equipe foi vítima de abuso sexual intrafamiliar, e ela afirma (até por relatos de outros sofrentes em igualdade de violação) que em tempos normais e anteriores ao COVID-19, a casa para as vítimas de abuso intrafamiliar tem o significado de martírio e sofrimento, e a rua, de salvação (mesmo que momentâneo).

O filósofo Leandro Karnal em entrevista a CNN falou sobre esse momento durante e pós COVID-19, e sobre esses agressores intrafamiliares:

“A violência dentro de casa também é motivo de atenção neste período de isolamento social. ‘A família é uma estufa de amor, mas é onde uma erva daninha pode florescer. É preciso denunciar um agressor, ele nunca agride uma única vez. O agressor é um perturbado que precisa de tratamento e às vezes encarceramento.'” (LIMA; PALMA; HERÉDIA; PRIOLI, 2020)

Apesar de tudo, Karnal prevê um “período de grande alegria e felicidade” no pós COVID-19, já que isso pode ser observado durante o curso da História da Humanidade ao fim de grandes guerras, revoluções e epidemias de vasta dor e mortandade.

“‘Na tradição histórica, depois de um período de recolhimento e morte, há uma grande explosão de vida. É o caso do Renascimento após a Peste Negra. Depois da Revolução Francesa, a moda em Paris se tornou muito extravagante e internacionalmente famosa. Haverá uma tendência a uma explosão de sociabilidade em um primeiro momento.’ / As mudanças acontecem em alta velocidade, observa Karnal. ‘Há um ano reclamávamos que tínhamos pouco tempo para ficar em casa. Eis que todo mundo foi jogado dentro da família dia e noite’. / No caso do Brasil, as famílias encaram de maneira diferente a pandemia, de acordo com o poder aquisitivo. ‘Não existe uma elite brasileira, existem várias elites. Aqui, o que a epidemia trouxe à tona, de forma cristalina, é uma desigualdade tão brutal, evidente, que até para a morte somos distintos. As classes média e alta envolvem um debate sobre como lidar com o tédio e com as crianças em casa. A classe mais baixa pensa em sobreviver e o risco de perder o emprego. Somos um país que já estava imerso na informalidade, e ela foi atingida como um raio pela epidemia’, diz o historiador.” (LIMA; PALMA; HERÉDIA; PRIOLI, 2020)

Em reportagem do jornal El País Brasil, Barrero (2020) acorda com Karnal de que as sociedades mundiais sairão dessa pandemia de COVID-19 mais solidárias, mas completa explicando que estarão paralelamente mais temerosas. As pessoas passarão por estados de ânimo intermitentes, que vão de alerta à pouco ou nada nervosas, e retornando novamente à agitadas. A crise que traz o medo, também traz a instabilidade.

O nervosismo também é ampliado pelo número contínuo de contaminados, de negacionistas (sendo contaminados e contaminando), e pelos óbitos. O consumo constante de notícias também é preocupante, pois apresenta duas vertentes muito claras: as chamadas “fakenews” e as notificações verdadeiras. Por causa do enorme número de informações mentirosas sobre tudo o que está ocorrendo, e divulgadas por negacionistas por meio de redes sociais como o WhatsApp e Facebook, os canais confiáveis com notícias embasadas em instituições (como OMS e ONU) e cientistas respeitáveis por todo o país e planeta acabam “bombardeando” com mais notícias, numa tentativa de se sobrepor às falsas notificações e salvar a vida das pessoas. Isso faz com que aquilo que deveria apenas funcionar como alerta de cuidado partindo do pressuposto que os indivíduos prezariam por suas vidas e de terceiros, vire um centro de batalhas de excesso de informações.

Outro fator de estresse é a perda ou temor da perda dos empregos e sustento num momento tão delicado e que exige muitos meses sem trabalho e/ou remuneração. Ademais, a rua com caminhadas não pode ser mais uma opção de fuga para se distrair, exigindo de cada um, mais criatividade para se distrair com o que tem em casa, refazer hábitos e aprender a trabalhar a perseverança e o equilíbrio, assim como, a controlar a angústia, a ansiedade e o medo. E são justamente esses pontos que podem ser usados positivamente, pois quando bem trabalhados, fortalecem os indivíduos diante de outras graves crises, além de torná-los mais criativos, proativos, generosos, solícitos, empáticos e estruturados.

Existe uma expectativa de que a vida fora de casa, nas ruas, será vista e vivida diferente, tornando as sociedades mais cautelosas e com hábitos e posturas repensadas. Seja como for, pequenas coisas que anteriormente e há muitos anos vinham sendo ignoradas, estão ganhando nova reformulação mental sobre suas verdadeiras importâncias. Parar para ver a borboleta pousando na árvore, parar para ouvir o cantor da janela, parar para ouvir quem está em sua casa, parar para respirar, parar para ver que a vida é a maior dádiva da própria vida. E perceber como nas palavras de “Under Pressure” (MERCURY; TAYLOR; MAY; DEACON; BOWIE, 1981) que “o amor te desafia a se importar com as pessoas na beira da noite; e o amor desafia você a mudar nosso modo de nos preocupar com nós mesmos”.

Parar…apenas parar e entender aquilo que realmente importa.

Foto: Arquivo pessoal de Liliane Abreu.

Links e autores citados para se informar mais:

ALVARÉZ, Paz. Por que o papel higiênico está se esgotando no mundo com o coronavírus? EL PAÍS BRASIL. Madri. 18 mar. 2020. 22:01 BRT. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/cincodias/2020-03-19/por-que-o-papel-higienico-esta-se-esgotando-no-mundo-com-o-coronavirus.html>

AMADEUS, Djefferson. E a pessoa abandonada na rua perguntou: por que vocês estão de máscaras? Pragnatismo Político. 20 mar. 2020. 21:42. Disponível em: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/2020/03/pessoa-abandonada-morador-rua-perguntou-mascaras.html>

ATTANASIO, Angelo. Coronavírus: o dramático aumento da atividade dos pedófilos virtuais com o isolamento. BBC News Mundo. 28 abr. 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-52450312?at_medium=custom7&at_campaign=64&at_custom2=facebook_page&at_custom1=%5Bpost+type%5D&at_custom4=A801A2FA-896B-11EA-B206-6FC1923C408C&at_custom3=BBC+Brasil&fbclid=IwAR1Um4OpSohmaLYU27gPVrUM4PBEw2FmEcda9SAu3or8_FyGEaWQYTeqsWo>

BBC NEWS BRASIL. A psicologia por trás da corrida por papel higiênico em meio a “medo contagioso” do coronavírus.  12 mar. 2020 – 07h25. Disponível em: <https://noticias.r7.com/economia/a-psicologia-por-tras-da-corrida-por-papel-higienico-em-meio-a-medo-contagioso-do-coronavirus-12032020>

BARBOSA, Carolina. Celular vira compulsão com efeitos danosos à saúde e às relações. 21 abr. 2017, 10h00. Disponível em: <https://vejario.abril.com.br/cidade/celular-vira-compulsao-com-efeitos-danosos-a-saude-e-as-relacoes/>

BARRERO, Belén. Sociedade sairá da pandemia mais solidária, mas também com mais medos. El País Brasil. 20 mar. 2020. 16:43 BRT. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-03-20/viver-sob-estado-de-alerta.html>

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TEMPOS MODERNOS. Direção de Charles Chaplin. Estados Unidos da América: Charles Chaplin Productions, United Artists, 1936. Inglês. Preto em branco. 83min. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fCkFjlR7-JQ>

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