Hoje falarei sobre um tipo de aborto que é consentido socialmente, ou seja, independente de crença religiosa, classe social, etnia ou gênero, que é o ABORTO PATERNO e suas consequências individuais, familiares e sociais.
Denominamos com o aborto paterno a situação em que o homem concebe uma criança com uma mulher, mas a abandona à própria sorte, transferindo toda a responsabilidade para sua parceira, eximindo-se de quaisquer responsabilidades com seu filho, seja ela financeira ou emocional.
Em estudo realizado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE – 2015 nos relata que quase 12 milhões de mulheres teve, em virtude do abandono de seus parceiros, que assumir integralmente a responsabilidade de ser pai e mãe de seus filhos, sendo a maioria composta por jovens com baixa escolarização e condições econômicas precárias.
Este número assustador é maior que a população do Paraná (11,6 milhões) ou quase a totalidade da população da Bahia (15,2 milhões). Estas mulheres raramente têm tempo para lazer ou cuidar de si próprias, porque sua prioridade é a sobrevivência da família.
Muitas ainda tentam melhorar sua escolarização na busca de melhores condições de trabalho e renda para sua família, mas seu tempo de supervisão aos filhos, que já era pequeno, fica ainda mais escasso.
Este dilema vai, aos poucos, consumindo sua saúde mental, porque, não raramente, são recriminadas, inclusive por si mesmas e pelos filhos, pelo seu “baixo desempenho do papel de mãe”, uma vez que não consegue, pela tripla jornada, atender ao modelo imposto socialmente, que determina que a mãe deve criar, zelar e cuidar de sua prole.
Mas como fazer isto se o pai abandona os seus filhos, segue sua vida, eximindo-se de sua corresponsabilidade de educar e prover afetiva e financeiramente a educação de suas crianças e adolescentes, compelindo a mulher a assumir, de modo solitário, toda a responsabilidade, a sua própria e a paterna?
A sociedade, incluindo homens e mulheres, é benevolente com o ABORTO PATERNO e ainda recrimina, condena e culpa as mulheres por não atenderem aos requisitos sociais para o exercício do amor materno, porque estão impossibilitadas de atingir o patamar ótimo na criação de seus filhos:
• Não estão presentes para supervisionar e educar,
• Não participam das reuniões escolares,
• Não acompanham as tarefas escolares,
• Não se certificam se as companhias de seus filhos são saudáveis,
• Não estimulam a leitura ou contam histórias para dormir,
E as crianças?
Em virtude da ausência paterna, as crianças acabam sendo abandonadas pelo pai e pela mãe, porque:
• a mãe está tentando suprir a lacuna deixada pelo pai, lutando pela sobrevivência de seus filhos e
• o pai perde a empatia com seus filhos e acha normal dizer “eu não tenho condições de ajudar”, deixando de oferecer, inclusive, exemplos de boas condutas e orientação educacional às suas crianças.
Esta situação aumenta significativamente o risco de vulnerabilidade social, que é ampliada pela insuficiência, número e qualidade, de creches e escolas em período integral, fazendo com que as crianças sejam inseridas precocemente no mercado de trabalho, ficando expostas a vários riscos sociais e emocionais, inclusive sendo presas fáceis para o tráfico de drogas ou outros inúmeros delitos, que marcarão decisivamente sua trajetória de vida e expectativa de um bom futuro.
Todas as crianças têm o direito de pertencer a sua família integral: pai, mãe, avós e todos os seus ancestrais. E àquele, pai ou mãe, que exclui seus filhos de seu circulo familiar também carregará o fardo da exclusão, até que o sistema seja harmonizado.
Portanto, torna-se urgente que sejamos veementemente contra o ABORTO PATERNO, porque o casamento pode ser dissolvido, mas o vínculo parental é eterno!
Vilma Maria dos Santos
Psicóloga e Consteladora Familiar
Santo André – SP
vilmasantos@psc.br
Foto: aempreendedora.com.br
Adicionar cometário