MUCB

‘Lutem meninas. Somos resistência nesse mundo machista e sombrio’

Por: Anônima

” Oi meninas, vim aqui contar um pouco da minha história. Engravidei aos 27 anos de um relacionando que estava recente e com médicos que diziam que eu não poderia engravidar, devido à baixa de hormônios.

Quando contei da gravidez, o pai da minha filha disse que venderia o carro pra eu abortar, que era o preço da liberdade. Sumiu, fiquei sem notícias dele. 

Quando eu estava com cinco meses de gravidez ele apareceu e jurou amor eterno. Acreditei. Minha filha nasceu e ele disse que não parecia com ele. isso com dois dias dela viva. E depois se arrependeu do que fosse. Passei longos sete anos ao lado dele. Fui traída, humilhada em todos os aspectos. Nunca me bateu, mas tenho agressões psicológicas que deixaram cicatrizes profundas. Sempre me prometeu um amor que não era capaz de dar. fui Tratada como zero.

Até que decidi que isso não aconteceria mais. Passamos todas as dificuldades do mundo, eu e minha filha. Privações extremas. Várias vezes pedimos ajuda e ele não deu. Fiz de TD nessa vida, fazia faxina, lavava rouoa, vendia produtos de limpeza, trabalhava fora. Sofri nos empregos porque eles gostam de massacrar mesmo.

Minha filha sempre estudou em colégio particular pq a família dele, primeiro avó e depois a tia avó, deram essa condição. Pagaram as escolas dela. Estudava muito. Entrou pra faculdade. Acordava muito cedo pra estudar e conseguir a vaga na federal. Logo estará formada. Para isso acontecer, já abri mão de comprar roupas, me cuidar pra que a prioridade fosse mantida. Ano que vem se gradua. No próximo pega licenciatura. É uma menina de ouro. Eu por minha vez trabalhei bastante tempo em curso.

E via mães que tem histórias ainda mais duras. E olha que já passei foi fome hein. Um mês e meio sem gás. Cozinhando no microondas. Comendo só angu com salsicha. Mas as passagens da faculdade estavam garantidas. Recebi uma proposta de montar um curso. Ter meu próprio negócio. Aceitei. Eu entraria com o trabalho e o sócio com dinheiro.

Descobri que o sócio não tinha dinheiro depois que pedi demissão da empresa. Mas recebi outra proposta, montar meu curso dentro de um curso. Montei. Tenho um curso de cuidador de idosos. E uma parceria de EJA. É uma luta mas está indo. Não é algo que me deixe rica, mas já dá pra garantir o aluguel. Luz. Essas coisas. Tem sido árduo pq tem muita inadimplência.

Então, o trabalho é de doze horas por dia e a cabeça vive quente pq as contas estão sempre atrasando. Mas ano que vem monto maquiagem, etc. O bom de ter meu curso, mesmo com dificuldade é poder dar bolsas de estudo pra mulheres. A cada vinte alunos uma recebe uma bolsa de cuidador de idosos.

Então ajudo alguém a sair dessa dependência que tem dos homens. Já conheci histórias duras. Pessoas que precisam estudar, tem sonhos interrompidos mas que estão na batalha assim como nós. Espero de coração que eu consiga fazer a diferença na vida de alguém. Meu sonho é ter o suficiente de alunos pra poder financiar um projeto gratuito de alfabetização de jovens e adultos no espaço onde estou. Existe tanta gente precisando ser ajudada.

O que tiro de tudo é que a gente merece o melhor. O embuste um dia disse que sou uma miserável que não tenho dinheiro pra pagar uma passagem então eu e a filha(dele também,) devemos estar passando fome. Hoje sabe que montei o curso. Mas não precisa saber que passo sufoco ainda né.
Ele tem uma profissão que conseguiu quando morávamos juntos. A mãe pagava Seu curso e eu sustentava a casa. Mas isso ele não lembra.

Eu vou lembrar sempre que não merecemos uma vida de humilhação. Merecemos o melhor. Ainda que meu melhor seja pouco aos olhos de quem tem muito. Pra mim o que tenho é tão bom. Só quero mesmo chegar aos meus duzentos alunos pra conseguir contratar profissionais para ensinar adultos a lerem e escreverem. 

Um dia chego lá. Pra quem não tinha dinheiro pra gás. Pra quem andava uma hora a pé pra dar o Rio Card pra filha ir pra aula, já tô bem demais. Pra quem luta todos os dias contra a depressão, sem remédios, pois nos momentos em que ela foi mais forte, se eu comprasse remédios faltaria comida à mesa.

O nome do curso é meta qualificação profissional. Nada mais apropriado pra quem nunca teve a opção de desistir. Larguei uma faculdade por não ter como ir, sem passagem, sem emprego. Hoje me realizo na minha filha e nos meus alunos. 


Lutem meninas. Somos resistência nesse mundo machista e sombrio. “

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