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O coronavírus avança e a conta é da população

No dia 30 de abril o número de contaminados pelo Covid-19 chegou a 87.187, com 6.006 mortes.  O Brasil já ultrapassa a China no ranking mundial, ocupando o 10º lugar em número de casos. Não é só isso, especialistas confirmam a possibilidade da subnotificação ser uma triste realidade. O estudo Covid-19 Brasil, iniciativa de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o número de infectados pode ser superior a 1, 2 milhão.

Depois de minimizar as determinações de autoridades sanitárias nacionais e internacionais, estimulando a população a voltar à rotina, nas últimas semanas testemunhamos ainda a queda e saída de dois ministros do governo – explicitando uma dissonância interna que só se estende. Não o bastante, a cada fala somos impactados por evidências que não permitem, nem aos maiores defensores fanáticos, uma defesa baseada na “manipulação da mídia”.

O “E daí?” foi uma entre tantas avalanches de declarações evasivas que o presidente fez ao ser questionado sobre o aumento do número de mortos. No dia 20, quando as mortes passavam de duas mil, ele reagiu com: “Oh cara, quem fala de… Eu não sou coveiro, tá certo? Eu não sou coveiro”.  Dia 28, afirmou ser “Messias”, mas não fazer milagre. Dia 29 foi momento de passar a conta para os Estados e Municípios, atribuindo a total responsabilidade do combate ao covid-19 para o ato de publicar medidas de restrições por meio de decretos: “Não vão botar isso no meu colo, uma conta que não é minha”.

Não podemos nos iludir, tais reações não podem ser definidas com termos como “espontaneidade” ou “despreparo” (para não usarmos outros adjetivos).  A crise moral deste governo está tentando se disfarçar por meio de estratégias de comunicação bastante conhecidas. A primeira delas diz respeito a negar responsabilidades inerentes ao cargo, transferindo para governos anteriores, mídia e outras esferas da administração o poder de reverter qualquer situação.

A segunda, conta com a participação de apoiadores que espalham fake news, servindo cegamente (ou não) ao ato de “distrair” para tirar pautas importantes do foco. Isto tudo faz parte de uma retórica política que está sendo constantemente bombardeada pelos números oficiais de infectados e mortos pelo Covid-19, diariamente. O que percebemos é um silêncio, uma ausência de medidas efetivas que responsabilizem os agentes e os omissos.

Até que ponto será negado que certos posicionamentos custam vidas? Sabemos que não somente o novo coronavírus ameaça… Que é igualmente nociva a falta de hospitais, de equipamentos de proteção para profissionais ou mesmo simular um estado de normalidade. Até quando? Ou, até quantos?

Texto de Ana Prado

Foto destaque: Agência Estado via AP images

Fontes:

Estimativa de Casos de COVID-19. USP e UFRJ: Clique: https://cutt.ly/6yhmMeN

‘E daí?’ de Bolsonaro não é primeira reação de desdém às mortes de brasileiros por Covid-19. Por G1.Clique: https://cutt.ly/gyhm12d

‘Não vão botar no meu colo essa conta’, diz Bolsonaro sobre 5 mil mortes pelo coronavírus (vídeo). Por  Brasil 247. Clique: https://cutt.ly/Hyhm9LK

Casos de coronavírus e número de mortes no Brasil em 30 de abril. Por G1. Clique: https://cutt.ly/wyhm802

Da negação da demissão à facada de Adélio: como grupos bolsonaristas recalibraram discurso após saída de Moro. Por Ricardo Senra e Juliana Gragnani (BBC News Brasil). Clique: https://cutt.ly/dyhm5LV

Subnotificação pode esconder mais de 1 milhão de casos no país, diz estudo. Por UOL. Clique: https://cutt.ly/2yhm66r

Brasil ultrapassa a China em número de casos de coronavírus e é o 10º no ranking mundial. Por Natália Cancian, Renato Machado e Daniel Carvalho (Folha de S.Paulo). Clique: https://cutt.ly/FyhQwRl

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