Fevereiro foi um mês marcado por casos de violência de gênero terríveis. Elaine Peres Caparroz, de 55 anos, foi covardemente agredida pelo lutador de jiu jitsu, Vinicius Batista Serra, de 25 anos. A sessão de tortura durou 4 longas horas.
A vítima gritou por socorro e ninguém a ajudou. O caso dela nos faz refletir sobre a cultura da omissão: “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. Errado! Em briga de marido e mulher se mete a colher sim! Muitos feminicídios poderiam ser evitados se houvesse a intervenção de terceiros. No caso da Elaine seus vizinhos ouviram seus gritos de desespero pedindo socorro e, poderiam ter acionado a polícia, ou até mesmo, intervir batendo na porta e perguntando o que estava acontecendo. Mas não o fizeram. Foram omissos. Quem não se posiciona contra o agressor torna-se cúmplice dele.
Quando os vizinhos de Elaine não ouviram mais gritos, resolveram avisar ao zelador que acionou a polícia. Ao chegar no apartamento o zelador encontrou Elaine no chão, desacordada e totalmente desfigurada. Ela sobreviveu por sorte!
Por pouco não entrou para as estatísticas, mas passará por cirurgia para reconstrução facial. Seu algoz foi preso em flagrante e foi internado em um hospital psiquiátrico, onde foi descartada a hipótese de que ele teria sofrido um surto.
O agressor foi transferido para um presídio no Rio de Janeiro e responderá na justiça por tentativa de feminicídio.
Outro caso estarrecedor e de repercussão nacional foi o da estudante de direito, Eva Luana da Silva de 21 anos.
A jovem denunciou abusos praticados pelo padrasto. Ela procurou a delegacia da cidade algumas vezes para fazer boletim de ocorrência (B.O), porém foi dissuadida a não fazê-lo porque simplesmente não acreditaram em seu depoimento.
Eva resolveu então usar as redes sociais para publicar um longo relato sobre as torturas e os abusos sofridos por ela, durante oito anos pelo padrasto, na cidade de Camaçari, na Bahia.
Numa sequência de cinco posts, a estudante de Direito conta com detalhes as agressões físicas, psicológicas e verbais que sofreu. Segundo Eva, ela foi forçada a comer o próprio vômito e a abortar diversas vezes. A universitária também denunciou as agressões que o homem praticava contra sua mãe.
“Meu caos teve início quando eu tinha 12 anos. Minha mãe era agredida, abusada, violada e torturada quase todos os dias. Meu padrasto era obsessivo e ciumento com ela. Resumindo de uma maneira geral, ela era agredida com chutes, joelhadas, objetos. Era abusada sexualmente de todas as formas possíveis. Era obrigada a tomar bebidas até vomitar e quando vomitava tinha que tomar o próprio vômito como castigo. Ele começou a me abusar sexualmente”, confessou Eva. O homem foi preso no dia 13 de fevereiro.
O caso de Eva traz a tona outra reflexão sobre as muitas formas de violência que nós mulheres somos submetidas. Nesse caso foram duas violências, o ataque propriamente dito e o fato de ser impedida de registrar boletim de ocorrência, pois não acreditaram em seu depoimento. Infelizmente muitas mulheres ao chegar nas Delegacias, chamadas de especializadas, se deparam com esse tipo de tratamento.
Para a vítima é muito difícil procurar ajuda por sentir medo e vergonha, mas é fundamental que seja denunciado. Se Eva tivesse conseguido registrar o B.O na primeira vez que foi a delegacia, é muito provável que seu caso fosse investigado e seu algoz preso – pelo menos é o que deveria acontecer.
Nós do MUCB, prestamos nossa solidariedade e apoio à Elaine, Eva e a tantas outras de nós que também passaram por casos de violência, mas não tiveram seus casos divulgados, vocês não estão sozinhas.
Por isso, denuncie, disque 180, a chamada é gratuita para todo Brasil e sua denúncia pode ser anônima.
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