Cara gente branca (ou não negra)

Não adianta se revoltar com à violência policial nos EUA, mas quando acontece aqui no Brasil ser o primeiro a questionar a versão dos familiares e procurar justificativas para a morte violenta de jovens negros.

“Algo ele deve ter feito”, “tinha passagem pela polícia”, “era envolvido com o tráfico”, “bandido bom é bandido morto”, “não gostou leve pra casa”, não podem ser argumentos de quem se diz acreditar que somos todos iguais. Realmente somos?!? O benefício da dúvida deveria ser de todos, mas não é! Naturalizar execução sumária promovida pela polícia apenas endossa o genocídio da população negra.

O racismo é um mal entranhado na cultura e em toda sociedade brasileira. No Brasil, basicamente iniciou-se com as novas terras colonizadas por Portugal, para os povos originários que aqui estavam ocorreu como extermínio e posse de seus territórios. Ele se materializa nas expressões linguísticas, nos costumes e tradições, nas instituições, no mercado de trabalho, no acesso a políticas públicas, no acesso aos direitos humanos, nas escolas, nas ruas… Em toda parte! Ele estrutura à sociedade e permeia todas as relações sociais, por vezes de forma inconsciente. Está tão impregnado, que se naturaliza de forma cruel! E o negro que tem coragem de apontá-lo é visto como agressivo, impaciente, arrogante e prepotente.

A pessoa branca brasileira (ou não negra se preferirem) tende a negar o racismo e se ofender quando o apontamos. Agora, sabendo de toda a estrutura racista que vivemos, quem poderá dizer ser isento de pratica-lo ou reproduzi-lo?!? Eu mesma já fui ameaçada de processos judiciais por ofensas “racistas reversas” e calúnia por imputar racismo onde ela achou que não existia. Ainda aguardo a coragem de enviarem a intimação, rs… Percebo que não conseguem nos ouvir. Querem ensinar ao negro como ele deve resistir, se recusando o papel de coadjuvante e ouvinte nessa luta, já que se acostumou a serem os protagonistas de todas as histórias!

Precisamos entender que o racismo vai além de odiar negros, ofendê-los diretamente, negar o acesso a determinado espaço! Eu diria que esse tipo de racismo não é o majoritário. Mas quando você silencia o lugar de fala de uma pessoa negra, você está sendo tão horrível como esse racista escancarado! Dói e desestimula ouvir “os negros se vitimizam”, “tudo agora é racismo”, “pare de mimimi”, “alguma coisa ele deve ter feito”, “antigamente todo mundo coloca apelido e resisti”, “tem negro mais racista que branco”, “tenho um parente negro”, e outras expressões usadas quando os brancos (ou não negros) querem discordar de nós quando apontamos o racismo neles! O racismo é uma forma de controle social de negros e pobres, abrir mão desse controle pode ser encarado como perda de privilégios!

Precisamos da união de negros e não negros! Somente quando admitirmos os nossos próprios preconceitos seremos capazes de mudá-los! É preciso aceitar os próprios privilégios e entender que, mesmo vocês não terem sido diretamente os escravizadores e colonizadores, são os descendentes deles. A antiga Europa e Reino Unido lucraram com o tráfico negreiro em toda a América. Após a falsa abolição no Brasil, foram os europeus e asiáticos a ocupar o mercado de trabalho que seria dos negros. Diretamente ou indiretamente todas os povos lucraram com a escravidão, com exceção dos negros e indígenas, que a propósito, lideram as listas de genocídios sofrido em todo o mundo… Já se perguntou porquê?!?

Já passou da hora de revermos nossos conceitos e preconceitos, o racismo mata! E faz tempo! No Brasil, uns 500 anos, só não era filmado e esfregado em nossas caras! Por isso, não julgue a nossa revolta como raiva ou agressividade, venha fazer parte dela! Juntos podemos fazer um mundo melhor!

#RacismoMata

#VidasNegrasImportam

#ParemDeNosMatar

#NaoAoGenocidioDaPopulaçaoNegra

#BlackLivesMatter

#StopGenocide

#JusticeForGeorgeFloyd

Texto: Ludimilla Teixeira