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Amazônia em chamas: o colapso da gestão ambiental no Brasil

Nas últimas semanas, os focos de incêndio na floresta Amazônica trouxeram à tona o quão desastroso pode ser um governo que subestima a importância da preservação ambiental. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de janeiro até 21 de agosto foram registrados 75.335 casos de incêndios na região amazônica – quase metade disto ocorreu no último mês. Em 2018, o número foi de 40.786 focos para o mesmo período, significando um aumento de 84%. Não por mera coincidência, o desmatamento já cresceu 67% em comparação ao mesmo período de 2018.

Foto: Anistia Internacional

Estudos do cientista Carlos Nobre indicam que, até hoje, entre 15% e 17% da Amazônia foi destruída. Com a continuidade do processo, a regressão da floresta acontecerá entre 30 e 50 anos, quando cerca de 200 bilhões de toneladas de dióxido de carbono serão lançados à atmosfera. Assim, a temperatura não será mantida em um aumento ideal de 1,5 a 2 pontos, condição estabelecida para que o aquecimento global não seja ainda mais devastador.

Considerando que maior parte desta biodiversidade esteja em território nacional, assim como a crise ambiental constatada diante do aumento das queimadas, o presidente Jair Bolsonaro limitou-se a enviar as Forças Armadas para a região. Também afirmou que o país não possui recursos para combater os incêndios, sendo uma ameaça à “soberania nacional” aceitar o auxílio estrangeiro. No último dia 23, acusou as ONGs de serem responsáveis pelas queimadas. O líder do governo, Onyx Lorenzoni, cooperou com o tom acusatório de Bolsonaro, mas agora atacando os europeus, sugerindo que estes estariam interessados em se aproveitar do desmatamento para criar barreiras econômicas ao Brasil.

Nas últimas semanas, 17 foram as manifestações em capitais brasileiras reivindicando a responsabilidade do governo para com a preservação da área. São Paulo e Brasília tiveram vias fechadas. Nas principais capitais europeias, atos de protesto em frente às embaixadas brasileiras. Líderes mundiais voltaram sua atenção para os acontecimentos. O presidente francês, Emmanuel Macron, convocou o Grupo dos Sete (G7) – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido –

resultando na definição do valor de 83 milhões de reais para os países que compõem a bacia amazônica. Na última quinta-feira, dia 29 de agosto, Bolsonaro, em uma transmissão pelo Facebook, desmereceu o auxílio: “Macron ofereceu uma esmola. O Brasil vale muito mais do que 20 milhões de dólares, pelo amor de Deus”.

Para ambientalistas, a maneira como Bolsonaro encara a preservação da região é uma das razões para o aumento dos focos de incêndio e desmatamento. Isto porque, ao alardear uma política desenvolvimentista e pouco focada na importância da preservação ambiental, há um encorajamento de tais práticas. Da mesma forma, Bolsonaro assumiu ser a favor da flexibilização das leis ambientais desde sua campanha eleitoral.

Em entrevista concedida a Carlos Madeiro ao site UOL, a filha do ambientalista Chico Mendes, Elenira Mendes, afirma que o aumento de queimadas está relacionado à postura permissiva do presidente diante da exploração da Amazônia, sendo um dos principais sinais disto a redução da área fiscalizada. Também é evidente a associação de tais ocorrências com interesses de pecuaristas na região. Segundo os ambientalistas, os mesmos que desmatam, acabam incendiando a floresta com o propósito de “limpar a terra”. Isto porque, depois de extraída a madeira, o objetivo é vender as terras a fazendeiros.

Para os que duvidavam do posicionamento inerte do presidente em relação à crise ambiental, como resposta, a alteração do decreto do dia 29 – que barrava as queimadas em todo território nacional pelo prazo de 60 dias. No dia 30, no Diário Oficial da União (DOU), foi publicada a liberação de queimadas fora da região considerada Amazônia Legal – Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Na versão alterada, Bolsonaro trata de não deixar os agricultores insatisfeitos: o fogo é permitido para fins relacionados às práticas agrícolas, sendo condicional a autorização do órgão ambiental estadual apenas (…).

Por Ana do Prado

Fontes:

Missão Amazônia. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Ipea) http://www3.inpe.br/amazonia-1/

Decreto nº 9.997, de 30 de agosto de 2019. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-9.997-de-30-de-agosto-de-2019-213565411.

Por que os incêndios da Amazônia geraram uma crise no Brasil e no mundo? Por Jake Spring, da Reuters. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/por-que-os-incendios-da-amazonia-geraram-uma-crise-no-brasil-e-no-mundo/.

Inferno na floresta: o que sabemos sobre os incêndios na Amazônia. A Amazônia sempre sofreu com queimadas ligadas à exploração de terra. Mas como isso chegou tão longe? Por Vanessa Barbosa. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/inferno-na-floresta-o-que-sabemos-sobre-os-incendios-na-amazonia/

Queimadas na Amazônia: veja respostas para as dúvidas mais frequentes. Metro Jornal. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e de Rubens Benini, engenheiro líder da estratégia de restauração florestal da The Nature Conservancy. Disponível em: https://www.metrojornal.com.br/foco/2019/08/23/queimadas-amazonia-perguntas-respostas.html

Amazônia pegando fogo: protestos vão acontecer em todo o Brasil. Disponível em: https://catracalivre.com.br/cidadania/amazonia-pegando-fogo-protestos-vao-acontecer-em-todo-o-brasil/

30 anos sem Chico Mendes: filha termina Direito e quer seguir legado do pai. Entrevista para Carlos Madeiro (Site UOL). Disponível em: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2018/12/22/30-anos-apos-morte-filha-cumpre-desejo-de-chico-mendes-e-termina-direito.htm

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