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Ágatha Félix: vítima da política de confronto

“Não houve confronto”, afirmou o avô de Ágatha Vitória Sales Félix, 8 anos, vítima fatal de um tiro de fuzil no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro. O familiar contesta que, no dia 20 de setembro, havia sinais de conflito entre criminosos e policiais no momento em que a Kombi estacionava na comunidade chamada Fazendinha.

Foto: Adriano Ishibashi/FramePhoto/Folhapress

O motorista do veículo confirmou a versão do avô para a Polícia Civil. Ao descer para prestar auxílio à família, avistou dois homens sem camisa passando em uma moto. E então, um policial atirou enquanto a família abria o porta-malas para pegar suas bolsas. Após o disparo, a mãe da menina gritou. Em seguida, a mesma Kombi levou a criança à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde outros policiais – que não estavam na cena do tiro – levaram-na para o Hospital Getúlio Vargas, onde Ágatha faleceu na madrugada do dia 21.

Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, trata-se da quinta criança assassinada este ano no Rio de Janeiro durante intervenções policiais em comunidades. E, conforme o Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, de janeiro a agosto, foram registrados 1.249 casos de morte em virtude da ação de policiais, sendo cerca de cinco por dia. Por meio de nota ao site UOL, tanto a Polícia Militar quanto o Governo do Estado do Rio de Janeiro afirmaram que, naquela noite, criminosos agiam simultaneamente em locais distintos do Complexo do Alemão, o que gerou a “reação” dos policiais. Testemunhas e moradores cobram das autoridades justiça e medidas efetivas para que as ações policiais sejam menos ostensivas e mais responsáveis nas comunidades. Isto se dá pelos mesmos motivos que a população já está cansada de saber, mas que os líderes políticos fingem não entender: os moldes de guerra ao tráfico instalados em favelas matam mais inocentes do que culpados, devastam famílias, condenam à morte cidadãos já fragilizados por um Estado inerte diante da desigualdade social.

Nesta última sexta-feira, dia 27 de setembro, protestos no Rio de Janeiro, São Paulo e Recife aconteceram contra a morte de mais uma inocente e contra o genocídio negro. No site Alma Preta, um trecho do manifesto:

Justiça para Agatha! Queremos o fim do genocídio do povo negro!

Foi um tiro de fuzil pelas costas que apagou o sorriso de Ágatha Felix

Ágatha Felix, de 8 anos, foi assassinada com um tiro de fuzil nas costas no dia 20 de setembro no Complexo do Alemão, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, no Brasil. Ágatha, há uma semana não está entre nós, há uma semana perdeu a vida por causa da falsa guerra às drogas, por causa da polícia que nos vê apenas como o corpo inimigo. Mas, nós, mães, familiares, moradores de favelas periferias e apoiadores do Brasil e do mundo estamos aqui pra dizer não a essa política racista, não ao assassinato de nossas crianças, de nossos jovens, de nosso povo negro, favelado e pobre.

A menina Ágatha, infelizmente, não foi a primeira a ser assassinada pela política de confronto nas favelas do Rio de Janeiro. Só este ano foram 17 crianças baleadas e 5 delas morreram por causa de um governo que todos os dias declara que a polícia deve invadir a favela e atirar. Por causa de um governador que, inclusive, comemora cada uma dessas mortes.

Nessa dita guerra às drogas, alguns até aceitam que helicópteros e caveirões sejam usados para dar tiro em escola de pretos e pobres. Não consideramos isso normal e nem aceitável! Não faz sentido continuarmos seguindo nossa vida como se nada estivesse acontecendo. Estamos morrendo. Nossas casas, famílias e amigos sendo violados cotidianamente por um Estado racista (…)

Texto por Ana do Prado

Fontes:

https://www.brasil247.com/brasil/movimentos-sociais-protestam-nesta-sexta-contra-morte-de-agatha-felix

https://almapreta.com/editorias/realidade/contra-morte-da-menina-agatha-felix-movimentos-protestam-no-brasil-esta-sexta-27

https://veja.abril.com.br/brasil/caso-agatha-motorista-diz-que-nao-havia-confronto-e-que-viu-pm-atirar/

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/09/projetil-que-matou-agatha-e-de-fuzil-mas-nao-podera-ser-comparado-a-armas-de-pms.shtml https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/09/21/avo-rebate-versao-da-policia-e-nega-confronto-em-operacao-que-matou-agatha

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